Uma falácia
é uma espécie de mentira, é um argumento logicamente inconsistente, inválido,
ou que falhe de outro modo no suporte eficaz do que pretende provar. Argumentos
que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do
público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por
causa disso. Reconhecer as falácias é por vezes difícil.
Neste
artigo vamos tentar contrariar uma série de expressões que são habitualmente
proferidas por comentadores e adeptos do futebol em geral. Essas expressões, na
nossa opinião, não retratam o nosso modelo de Guarda-Redes.
Estes são
apenas alguns exemplos:
"Nos
remates diagonais, o 1º poste é do GR!"
Em
situações de Defesa da Baliza o GR deve posicionar-se em cima de uma linha imaginária
que une a posição da bola e o centro da baliza. Por outras palavras, o GR deve
posicionar-se à mesma distância de duas linhas imaginárias que unem a bola e os
dois postes da baliza.
Assim, o GR está à mesma distância dos chamados
primeiro e segundo poste, seja num remate frontal ou diagonal, e não faz
sentido dizer que o GR tem mais responsabilidade sobre um ou sobre o outro
poste.
A única
coisa que pode alterar ligeiramente este posicionamento é o pé que realiza o
remate.
"Nos cantos, o GR deve posicionar-se sempre na 2ª
metade da baliza!"
No futebol actual, não faz sentido um posicionamento
desse género. Da mesma forma que se pode dizer que o deslocamento à frente é
sempre mais rápido e mais fácil que o deslocamento atrás, a bola chega sempre mais
rapidamente à zona do 1º poste do que à zona do 2º poste.
Assim sendo, o GR deve adoptar um posicionamento sobre
o centro da baliza, mais afastado ou mais próximo da linha de baliza em função
do pé que cruza a bola (canto aberto ou fechado).
"Nos
livres frontais, o GR é responsável pelo seu lado e não pode sofrer golos nesse
lado!"
Na formação de barreiras em livres frontais, o GR deve
ter em conta as seguintes premissas:
- "traçar"
uma linha imaginária entre a bola e o poste da baliza;
- colocar
um jogador e meio exteriormente a essa linha e os restantes interiormente;
- posicionar-se
numa zona onde consiga ver a bola partir;
- garantir
que esse posicionamento é o mais próximo possível do centro da baliza;
- da
mesma forma, deve "ganhar tempo de reacção" posicionando-se o mais
próximo possível da linha de baliza ou mesmo em cima dela;
- reagir
ao remate e não antecipar o mesmo.
Desta
forma, com um posicionamento o mais próximo possível do centro da baliza (desde
que veja a posição inicial da bola), o GR é responsável por toda a baliza e não
só pelo seu lado.
"Em
cantos ou cruzamentos, a pequena área é toda do GR!"
O GR deve posicionar-se de forma dinâmica e sempre em
função da posição da bola e do pé que efectua o cruzamento/canto. Deve variar o
seu posicionamento em termos de largura e de profundidade, em função da maior
ou menor proximidade da bola das linhas de fundo e lateral.
Da mesma forma que varia o seu posicionamento, também
varia o seu raio de acção.
Para alguns posicionamentos, é impossível assumir todo
o espaço da pequena área como responsabilidade do GR, principalmente nas zonas
laterais da mesma.
"O
ponto fraco deste GR são os cruzamentos..."
Este é um momento específico de jogo que importa
reflectir.
Vários são os GR nacionais e internacionais que são
adjectivados como "fracos nos cruzamentos". Aliás, raros são aqueles que são
reconhecidos como capazes. Porque será?
O
cruzamento é uma das situações mais complexas de interpretar em jogo e de ser
treinada.
As
variáveis são imensas:
- posicionamento em função da posição da bola (largura
e profundidade);
- ajuste em função do pé que cruza;
- orientação dos apoios;
- leitura de jogo/situação dentro da área (nº de
adversários e posicionamento dos mesmos);
- tomada de decisão sobre intervenção ou não no
cruzamento;
- comunicação com a sua linha defensiva;
- deslocamento para intervenção no cruzamento;
- decisão entre recepção ou desvio;
- cooperação dos seus colegas;
- oposição dos adversários;
- etc.
Normalmente, os exercícios de cruzamento tem este tipo
de características:
- Analítico, apenas preocupado com as técnicas
associadas e sem preocupação com posicionamento e tomada de decisão;
- Centrado no posicionamento, mas sem qualquer
preocupação com os factores técnicos ou decisionais;
- Com ênfase na tomada de decisão, mas com lacunas ao
nível do posicionamento e correcção técnica;
- Global, com integração dos factores tácticos,
técnicos e decisionais, mas sem transfer para o jogo, pois falta cooperação e
oposição reais.
Todas estas dificuldades resultam em lacunas de vários
GR em várias ou apenas algumas variáveis enumeradas anteriormente.
O caminho é conseguir realizar um pouco de todos os
tipos de exercícios de cruzamentos enumerados anteriormente, mas contar com o
suporte indispensável do treino integrado com a equipa, p.e., através de
exercícios de finalização/circulações tácticas.
É fundamental recriar no treino o contexto que vamos
encontrar no jogo e isso é impossível trabalhando cruzamentos apenas no treino
específico, pois a cooperação e oposição nunca serão reais, nem com 20 bonecos
insufláveis dentro da área.
Concluindo: são só os Guarda-Redes que são fracos ou a sua
preparação é que é fraca/desajustada?
- Treinador de guarda-redes do SL Benfica B;
- Ex-treinador de guarda-redes da formação de Real Massamá e Sporting
- Licenciado em Ciências de Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana
- O conteúdo aqui disponibilizado é exclusivo de O Mundo dos Guarda-Redes, qualquer reprodução não mencionada ou plagiada será sujeita aos devidos procedimentos.
Perfil do treinador O Mundo dos Guarda-Redes
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- Ex-treinador de guarda-redes da formação de Real Massamá e Sporting
- Licenciado em Ciências de Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana
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